Friday, February 28, 2014

Jet lag

Posted by Mayara Floss

    A felicidade está nas coisas simples. Penso nisso enquanto demoro quase dez minutos para plugar algo da tomada para carregar meu computador e celular. Os plugs na Irlanda são diferentes e quando consigo encaixar uma alegria boba me inunda. Talvez uma alegria parecida com o meu colega e amigo Rafael que é de Salvador (Bahia) e nunca tinha "visto o frio" e hoje quando ele falou saiu aquela "nuvem" da boca de vapor se condensando no frio, uma alegria das coisas simples.

Tomadas Irlandesas e suas travas de segurança
    Essas coisas inundam meu dia depois de sair as 5h da manhã (no Brasil) de casa e chegar em Galway por volta das 20hs (horário daqui). Agora estou sem sono, apesar de passar o dia inteiro "sonambulando" entre os aeroportos (e tentando encontrar comida vegetariana). Estou com dessincrose ou o famoso "jet lag". 

Escalas
     Deve ser porque dessincronizei toda a minha vida para vir para a Irlanda. Isso tem uma tendência para acontecer quando "tudo parece estar dando certo" no lugar onde você vive e você tem que partir. Aliás, é encantador como as pessoas podem confiar e ajudar uma as outras, estou no quarto de uma moça que faz medicina no Brasil (gracias Milena) e que eu nunca conheci pessoalmente e ela emprestou sua chave do quarto com todas as suas coisas dentro para eu passar a minha primeira noite antes de ir para a Host Family (só posso iniciar minha estadia na Host Family dia primeiro de março). 

     Um pouco atrapalhados e pedindo muitas informações ("Quem tem boca vai a Roma" como diria Rafael), descobrimos que quem tem boca vai a Galway e conseguimos encontrar o ônibus da Gobus pra embarcarmos para nossa nova casa, 15 euros a viagem. Amanhã vamos descobrir se quem tem boca chega na Penney's também para comprarmos o básico para sobrevivermos na Irlanda, como coisas impermeáveis.

   A única coisa mundana que me entristeceu foi uma mancha que apareceu na tela do meu computador (na verdade eu não fiquei tão triste assim) mas talvez isso venha me incomodar num futuro não tão distante que eu descobri no trajeto de Dublin para Galway. Eu e Rafael viemos escutando Pink Floyd até cairmos no sono no ônibus. Antes disso comecei a arriscar tirar algumas fotografias com a câmera semiprofissional que comprei (veja as primeiras impressões clicando aqui).

Fotógrafa amadora (Foto: Rafael Mota)
 
    Chegamos em Galway e eu e Rafael encontramos outra "estranha", a Thays, que não conhecia pessoalmente e que foi buscar eu e o Rafael fui descobrindo essas atitudes simples que talvez quando estamos perto de casa não vimos ou sentimos com tanta frequência. O taxista que nos levou até Corrib Village era uma simpatia só, só falava rápido demais e era do Niger, fiquei com vontade de perguntar mais coisas sobre a África.
   
 
Trilha Sonora ^^

    A primeira coisa que intui quando cheguei "em casa" foi fazer um chimarrão enquanto aquecia a água do meu banho. Tomei chimarrão enquanto conversava com outros brasileiros na casa. Depois nos desafiamos pedindo uma pizza em inglês (eba pizza vegetariana). E bem no fim do dia fomos apresentados a duas americanas ficamos rindo e conversando elas experimentaram o chimarrão e antes de ir dormir uma delas estava comendo bergamota (tangerine) e bem, combinação perfeita para começar a corrigir a minha dissincronia e a para primeira noite irlandesa: chimarrão, novos amigos e bergamota (só faltou o sol para lagartear). 



Chimarrão + bergamotas

Escrevo assim que puder. Voam abraços, 
Mayara

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Sinto

Posted by Mayara Floss


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Thursday, February 27, 2014

Partida

Posted by Mayara Floss

Foto: Mayara Floss
    Às 20h10m as rodas do avião começaram a se movimentar. O carro parou no semáforo, os livros ficaram parados na estante. O chimarrão foi desfeito. O pai pediu pão para o jantar. A roupa ficou estendida no varal. As coisas devidamente amontoadas em uma mala. O céu estava escuro. E chovia em alguma cidade. O céu era de estrela e de nuvens. E de nuvens e estrelas. Sim, o tempo parou por um instante. O relógio silenciou. Caiu uma folha. A moça reclinou o banco. O homem amarrou o cadarço do sapato. A criança chorou. Um jovem estudante fez seu primeiro parto. As mãos se uniram. Os lábios se afastaram. Um soluço sem lágrimas se apoderou da garganta. A esquina se dobrou. O vento na Rua Guaporé balançou as cortinas. 

    Alguém partiu, alguém chegou. Um botão foi pregado. Alguém adoeceu. Um coração acelerou. A barriga da mãe se mexeu pela primeira vez. Alguém na mesma cidade que choveu se escondeu nos toldos. Outro alguém abriu os braços para a chuva. Um flash disparou. O menino colocou o pijama. A mãe acordou. O bebê dormiu. Alguém tocou o interfone. Um homem se formou. Terminaram um artesanato.  O menino juntou as primeiras sílabas. Um sonho aconteceu. Outro telefone foi desligado. Uma mulher pediu comida. Alguém se curou. Uma reza começou. Outra oração terminou. 

    Um jovem escreveu pela primeira vez. Uma carta chegou. Um bolo ficou pronto. Tocaram um violão. Alguém abriu um livro. Pescaram um peixe. Terminou uma impressão. Fecharam a porta do quarto. O pássaro mudou de ninho. Nasceu uma saudades. O homem comemorou o término da limpeza da casa. Um menino sentiu mais fome. Um casal se casou. Outro se separou. Às 20h10m segurei o banco do avião e olhei pela janela. Alguém acendeu um abajur. Assentaram um tijolo. Plantaram um árvore. Entoaram uma canção. Começaram uma reunião. 

    Às 20h10 eu escrevi que a minha formatura não iria acontecer na data prevista. Que os planos não eram tão certeiros. Que a fome de viver era maior que a fome de ter. Às 20h10m eu deixei o Brasil, para aprender o mundo.

Voam abraços,

Mayara Floss

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